segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Literatura de cordel em S. João da Vitória

A literatura de cordel é uma espécie de poesia popular que é impressa e divulgada em folhetos ilustrados com o processo de xilogravura. Também são utilizadas desenhos e clichês zincografados. Ganhou este nome, pois, em Portugal, eram expostos ao povo amarrados em cordões, estendidos em pequenas lojas de mercados populares ou até mesmo nas ruas.

Um dos poetas da literatura de cordel que fez mais sucesso até hoje foi Leandro Gomes de Barros (1865-1918). Acredita-se que ele tenha escrito mais de mil folhetos. Mais recentes, podemos citar os poetas José Alves Sobrinho, Homero do Rego Barros, Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva), Téo Azevedo. Zé Melancia, Zé Vicente, José Pacheco da Rosa, Gonçalo Ferreira da Silva, Chico Traíra, João de Cristo Rei e Ignácio da Catingueira.


A arte de ser negro em nosso país

ÉTNICO
Não sei se discutes a cor filosófica de tua pele.
Não sei se o meu ser negro é igual ao teu.
Sei, apenas, que quero que o teu negror seja meu,
Assim como o meu negror seja teu...
Penso sobre se a nossa pele negra tem gosto
De esperança, ou se já nada espera
E,se assim for, pena que doa, em nós,
Não haver mais esperança!...
Mas, basta-me olhar em teus olhos
Que vem à mente, o desejo de pão,
A lembrança da fome de unificação,
Sabor de um encontro, tom de uma lágrima,
Anseio de satisfação...
Ainda não sei se o meu ser negro é igual
Ao teu, pois há pouco nos encontramos!
Mas, a tua serenidade lembra-me o cheiro
Orvalhado do mato, o cheiro da terra molhada,
A aragem matinal do campo, a força do baobá,
A pétala que brota como magia em flor...
Poderás dizer:-Ah, uma divagação.
E, eu te responderei: -Não, não é divagação.
É a luz do desejável e febril sentimento
Ainda que menos poético do que os poemas de amor.
E ainda assim este é um poema de amor
Que tem o seu próprio respirar e pede solene,
Que sejamos mais do que a nossa pele;
Pede que sejamos o ideal sem interrupções
E que cantemos o valor da vida
Que vai para o verde, vai para a rosa,
Que vai para as nossas dúvidas, nossas perguntas
E que vai para a nossa essência negra...também.
Fonte: Cezar Ubaldo ( http://www.jornaldapovo.com.br/noticia)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Batuque: 100 anos de história

 A primeira edição do Jornal do Batuque é um projeto desenvolvido pelos alunos da 8ª série/noturno da Escola Municipal Antônio Machado, como parte da disciplina Português. O objetivo do projeto é resgatar a história do Povoado do Batuque, além de manter a comunidade informada sobre os acontecimentos que importam diretamente ao povoado. Para tanto, o JB pretende ser comunitário não apenas porque tratará de fatos ocorridos dentro da comunidade, mas também por ser produzido pelos moradores da mesma.
O intuito é utilizar o jornal, um meio de comunicação mais acessível a todos na zona rural, para elevar a auto-estima, o senso de cidadania e o amor pela comunidade, através de uma maior participação na produção dos textos e do foco em interesses públicos.
Alice Ferraz da Cruz nasceu em 1918, ano em que a Primeira Guerra Mundial estava acabando. Mas, o Brasil só entrou nessa Guerra um ano antes de seu fim e o povo brasileiro pouco sentiu e viveu esse conflito. Para D. Alice não foi diferente. Hoje, com 92 anos e boa saúde, ela conta sua história confundida com a história do próprio povoado do Batuque.
JB – Como o Batuque surgiu?
Alice – Foi há uns 100 anos. Nessa época meus avós, Francisco da Cruz e Maria da Conceição, vieram morar no Batuque. Mas, só em 1930 que a população do povoado aumentou. Segundo meu avô, era um tempo de muita miséria. Eles matavam uma vaca para tomar o caldo, pois não tinha feijão, arroz, nem farinha. O primeiro comércio do Batuque foi de Daniel Ferraz, um mercado. As primeiras casas de farinha eram de José Moço e Martuliano. Naquele tempo, a doença que mais matava era a Tuberculose, pois não tinha cura. A falta de água tratada também matou muita gente de “sistozoma”. A primeira igreja foi católica e festejava durante nove dias a festa de São João.
JB – Porque o nome Batuque?
Alice – Por que tinha um senhor chamado João do Batuque, que ganhou esse nome por fazer a batucada todo 16 de maio, em festejos do Candomblé.
JB – Como era usada a mandioca naquela época?
Alice – A mandioca era ralada num ralo e torcida num pano para fazer o beiju. Estévão Santos e Augusto do Caldeirão eram os coronéis, os homens mais ricos do Batuque.
JB – E a educação no período?
Alice – O primeiro professor do Batuque foi “Durico”. A escola era particular e só estudava quem tinha dinheiro. Outro professor que deu muita assistência ao povoado foi Antônio Machado Ribeiro, junto com o prefeito Régis Pacheco.
JB – A senhora ainda teve contato com escravos?
Alice – Lembro de umas escravas: Luzia, Tereza, Maria e Bernarda. Bernarda era uma escrava guerreira e sofreu muito nas fazendas dos sinhozinhos. Havia escravos no quilombo - Corta Lote e Batuque - que fugiram das maldades dos seus donos.

Jornal Escolar: instrumento de transformação


Neste projeto de pesquisa, pretendo provar que é possível trabalhar nas escolas, inclusive de zonas rurais, com a produção do jornal escolar como recurso para promover, no aluno, o desenvolvimento da escrita e da leitura crítica, fazendo-o entender sua importância como agente social transformador da realidade, e sua formação enquanto ser participativo em questões que lhe dizem respeito dentro e fora da escola. Ao promover a função social da escrita, a produção do jornal escolar contribui com os processos de ensino-aprendizagem que a escola conduz, sobretudo com o letramento do aluno.
Para tanto, analisarei o Jornal do Batuque, projeto de jornal escolar que foi produzido por uma turma do 9º ano do Ensino Fundamental II do Círculo Escolar Integrado São João das Vitórias/CEISJV, escola pública localizada na zona rural do município de Vitória da Conquista, em uma pesquisa de intervenção que propus como professor de português dessa turma.
Tanto o processo de elaboração quanto os textos produzidos revelaram uma infinidade de possibilidades de se abordar questões interessantes e motivadoras da formação crítica dos alunos e da ampliação e aprimoramento de seus letramentos. Paralelamente, a atividade, embora laboriosa à primeira vista, já que inovadora naquele ambiente escolar, abriu novos horizontes para trabalhar a linguagem, especialmente a produção escrita dos alunos, revelando maneiras envolventes e interessantes de ensinar a língua e de, ao mesmo tempo, inseri-los nos propósitos largamente enfatizados no ambiente escolar e elencados nos documentos oficiais.
Foram produzidas cinco edições do Jornal do Batuque, cujo nome remete à história do próprio povoado, conforme foi possível verificar durante a pesquisa feita para elaboração de uma das matérias. Os textos do jornal foram discutidos antecipadamente em sala de aula, momento em que os alunos foram convidados a sugerir os temas, tanto das notícias como das entrevistas.  Com isso, pôde-se sentir uma proximidade e uma interação maior da turma com o ato de ler/escrever, facilitando em muito esse processo.